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O Medo

Li algures uma história em que perguntavam a um mestre Budista qual era, na sua opinião, o maior problema da sociedade ocidental.

E ele respondeu: “O medo. O medo é o assassino do coração humano, porque com medo é impossível ser feliz e fazer os outros felizes.”

De seguida, perguntaram-lhe como enfrentar o medo e ele explicou: “Com aceitação. O medo, é a resistência ao desconhecido, mas devemos aceitar que por vezes o desconhecido é exatamente aquilo que precisamos.”

E dei comigo a pensar que tenho momentos na minha vida em que parece que estou presa a alguma coisa que não me deixa avançar. Será isso medo? Vocês sentem isso?

Por isso, queria pedir-lhe que, apenas por um minuto, parasse e pensasse em todos os papeis que desempenha na sua vida. 

Recordando, por exemplo, desde o tempo em que começou a ter interesse por descobrir a vida ao momento em que era apenas: filha, irmã, namorada, esposa, mãe, profissional…

No final do ano, faço um planner para o ano seguinte. De 2019 para 2020 não foi diferente. Entretanto surgiu o bicho papão mundial, teve vários nomes e várias mutações, e fez com que a maioria da humanidade ficasse em casa, tendo sido confrontada com um novo MEDO, uma realidade desconhecida pela grande parte de nós.

Neste confinamento, percebi que não controlo a minha vida.

Meses atrás, a maioria de nós era dono da “sua” vida. Fazíamos o que queríamos, sem pensarmos, sem nos preocuparmos com o que se passava com os outros. Estávamos em modo piloto-automático, onde a maioria de nós não se preocupava com as consequências das suas atitudes. Éramos únicos e sábios e, por isso, as coisas más não nos aconteciam, só aconteciam aos outros. 

Éramos fortes, quase que omnipotentes.

Começámos por ver que na China acontecia algo que parecia ser um filme de ficção, tão irreal e tão longe. Por isso, pensámos: “não me vai acontecer nada, não nos vai afetar.”

Entretanto aconteceu em Itália, mais perto, mas mais uma vez: “não nos vai acontecer nada”.

E depois o bicho-papão, também chegou ao nosso país, assim como chegou aos quatro cantos do mundo, mas como fortes e sábios que somos, todos nós continuámos a fazer a nossa vida normal, já um pouco em modo de alerta, mas com a correria do costume, sem tempo para nada, ora vamos ali, ora vamos acolá. Sempre, sempre a correr.

E quando finalmente nos apercebemos que não é só aos outros que as coisas acontecem, deparamo-nos com uma nova realidade, onde somos todos iguais.

Ouvi um dia, não me lembro onde, que somos como se fossemos cubos de gelo. Mas quando nos abraçamos, quando estamos juntos, fundimo-nos num só e transformamo-nos em algo maior, num só elemento como a água. Assim é a HUMANIDADE e o Covid-19 veio mostrar-nos isso mesmo. Para ele não existe diferença de países, raças, culturas, religiões, ricos, pobres, gordos, magros, altos, baixos. Nesta realidade, somos um todo, e ao mesmo tempo 1 só. Isolados de quem nos é querido, de quem amamos, isolados do mundo… Mas será que isto é verdade?

No início e ainda agora, surgem algumas atitudes mais primitivas, como as de racismo, egoísmo, desrespeito e o medo, aquele que deu início a este texto, e aproveito este preciso momento para relembrar a resposta que o monge deu, em como devemos enfrentar o MEDO, e que agora faz ainda mais sentido:

“Com aceitação, o medo é a resistência ao desconhecido, mas devemos aceitar que por vezes o desconhecido é exatamente aquilo que precisamos.”

E percebo agora que quando começamos a aceitar tudo isto que está a acontecer, vejo que abrimos portas à aceitação, e com ela vem o despertar de outras emoções, valores e sentimentos, como o amor-próprio, a criatividade, a resiliência, a compaixão, a empatia, a paciência, a partilha, a partilha do tempo, da atenção, do amor, do cuidado pelo outro e com o outro. Sermos iguais a nós próprios, sem filtros, sem máscaras. Passamos a ser o nosso EU verdadeiro.

Com estas boas emoções e sentimentos, apercebemo-nos que “a galinha da vizinha não é melhor do que a minha”, e que as duas em conjunto iram funcionar muito melhor. Apercebemo-nos que estarmos todos em sintonia, podemos criar um mundo melhor, pois estamos todos no mesmo mundo, no mesmo barco e neste momento temos que remar todos para o mesmo lado.

Então será que este é o momento em que realmente estamos isolados do mundo? Mais isolados de quem é importante para nós? Pois é…

Talvez hoje estejamos mais próximos de todos, pois estamos mais atentos, mais cuidadores de quem amamos, e quando não estamos próximos, é ato de AMOR e ATENÇÃO com o outro.

Acima de tudo, estamos a ter a oportunidade de aprender a estar mais próximos de nós, de nos ouvirmos, podemos darmo-nos ao luxo de PARAR. Sim esse luxo, que antes chamávamos de procrastinação… Podemos deixar de inventar atividades atrás de atividades, limpezas, arrumações, fazer cursos e mais cursos só para dizer que se tem cursos, fazer desporto porque está na moda e não porque nos dá prazer, estar sempre ON. Podemos parar de inventar, dar-nos a este LUXO, parar de fazer constantemente.

Há algum tempo que me questiono que vida é esta. Faz sentido viver assim?

Tanto julgamento, preconceito, frenesim.

De que temos medo?

“Que parar é morrer?” Que não podemos nos dar ao luxo de parar?

O que é que nos assusta tanto, só de pensar em parar um pouco? Do que é que temos medo? Peço que pense nisto, que possa perceber que medos são estes.

Ter medo é algo natural, quando NÓS decidimos mudar… 

Contudo, agora a vida “obriga-nos” a mudar. Será que por isso todos estes medos são justificados? Ou será que estão a esconder algo?

Não será que a grande maioria destes medos não passam de crenças, valores que damos a nós mesmos, as nossas verdades, aquilo que acreditamos a respeito de nós e que pode influenciar nosso comportamento. E que de repente, foram colocados em causa… Sim, uma grande parte das crenças com que nós crescemos e guiámos a nossa vida, HOJE são colocadas em causa!

O nosso modelo do mundo é gerado por algo em que nós ACREDITAMOS, definindo assim as nossas possibilidades de ação, e essas possibilidades, HOJE foram alteradas.

No livro “Poder sem limites” de Tony Robbins, ele afirma: “O mundo em que vivemos é o mundo que escolhemos para viver, quer consciente ou inconscientemente… O nascimento da excelência, começa com o reconhecimento de que nossa crença é uma escolha. Podemos escolher uma vida que nos limita ou que nos impulsione.”

É sempre uma escolha.

Pare e pense. Faça as coisas porque lhe fazem verdadeiramente feliz, e não porque uma sociedade o “obriga” a fazer.

Isso é saudável para você?

É tempo de parar e repensar valores, comportamentos, sonhos, realidade. Pare e pense.

O mundo externo é reflexo do nosso mundo interno.

Texto de Rosa Seródio, adaptação Cristiane Perceliano.