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Relacionamentos Abusivos

É difícil reconhecer e assumir que se está a viver um relacionamento abusivo, onde existe violência verbal, emocional, psicológica, física, sexual, financeira e tecnológica (que pode ir desde o controlo das redes sociais, insistência em obter senhas pessoais, controlo de conversas, gostos e amizades online…)

O sofrimento causado, a frequência dos abusos, ciclos de agressão e violência enfraquecem a vítima, tornando-a, inconscientemente, numa “presa” do abusador. Quando a vítima se apercebe disso, o sofrimento e a angústia já estão instalados na relação disfuncional e desrespeitosa.

A “estratégia” do abusador é tirar o poder social da vítima, principalmente com pessoas que teriam condições de alertá-la, e isso pode acontecer de forma bastante subtil. São gerados conflitos com as amigas da vítima e qualquer pessoa que possa alertar dos abusos não são bem-vindas. O objetivo é retirar a rede de apoio da vítima. As situações vão escalando, tomando uma proporção de perda total do poder pessoal da vítima.

Nas relações abusivas, há discrepância no poder de um em relação ao outro. A posição de desigualdade é evidente. Dúvidas, confusão mental, ansiedade, insegurança e esperança de que o parceiro mude e os abusos cessem é uma constante.

Nas relações abusivas, o outro é o centro da vida. É comum a vítima moldar o seu comportamento em prol do abusador, com o intuito, consciente ou não, de evitar conflitos, com referência ao que o agressor espera por parte da sua “presa”.

O resultado é a interferência da relação com a família, amigos, trabalho e, principalmente, na forma como a vítima se enxerga.

Um relacionamento abusivo não é feito apenas de momentos de agressão. Existem as partes “boas”, que podem ser uma compensação ou manipulação pós-abuso. É uma promessa de mudança que não chega, uma estratégia do abusador.

A vítima vai cedendo: não está com a amiga porque ele disse que não gosta dela; assina um contrato no banco que ele pediu, mesmo não concordando; e assim vai perdendo a sua identidade.

As brigas começam a partir para a violência: violência verbal, agressão física e até mesmo sexual.

De seguida, vêm as conversas íntimas, sexo, promessas de mudança… É um ciclo que se vai repetindo e tudo isso gera medo, culpa e vergonha.

É quase impossível sair de um relacionamento abusivo sem uma intervenção psicológica.

A mesma sociedade que cria solo fértil para um relacionamento abusivo é a mesma que culpa a vítima por não conseguir sair de um relacionamento abusivo.

O abuso financeiro e os filhos são distintivos para alimentar a violência contra a vítima. 

A escassez é tão grande, a perda de identidade e liberdade económica é tão proeminente que a vítima deixa-se ser manipulada, humilhada, controlada e até agredida física e sexualmente. 

Isso não significa que mulheres independentes financeiramente também não possam estar em relacionamentos abusivos, mas a dependência financeira dificulta a saída de um relacionamento abusivo.

O abuso financeiro pode começar de forma subtil, com o parceiro tomando todas as decisões. Posteriormente, chega a situações em que o abusador diz: Eu estou bem, se você não está, a porta da rua é serventia da casa. No entanto, tem consciência que a vítima não se sente capaz de sair da relação pois já a minou financeira e psicologicamente e fez chantagens com os próprios filhos.

Ter suporte/apoio é o que irá permitir à vítima de um relacionamento abusivo “acordar” para a realidade que está a viver e ganhar coragem para sair desse lugar de dor.

O apoio é importante e fundamental. Oferecer ajuda à vítima, perguntando como ela está e ajudando-a a entender a situação por que está a passar, fortalece a vítima e incentiva-a a procurar novas possibilidades de sair deste abismo.

Culpa, isolamento, vergonha de pedir ajuda, falta de dinheiro e ajuda negada atormentam e incapacitam ainda mais a vítima de abuso.

Não exija que uma mulher termine um relacionamento abusivo se ela não tiver força suficiente. Exigir o término vai ter efeito contrário: ela vai sentir-se pouco acolhida e vai retomar a relação ainda mais forte com o abusador porque não encontrou apoio fora da relação.

A melhor ajuda que uma vítima de um relacionamento abusivo pode receber é suporte emocional e apoio psicológico. Sugira um profissional da área da saúde e esteja lá para a ouvir, sem julgamentos. Você pode ser fundamental na vida desta pessoa. Fique atenta, ninguém está livre de cair na teia de um abusador.

Amor, Carinho, Respeito, Companheirismo e Cuidado são requisitos mínimos para se relacionar com outra pessoa. Não se contente com menos. 🙌

Cristiane Perceliano

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