Permaneci tempo demais para a minha ansiedade e o tempo que o tempo leva para tudo se encaixar. Percebi que para ser grande e fazer tudo “certo” é preciso se libertar de memórias dolorosas e reconhecer a grandeza dos nossos pais. No meu caso, a grandeza da minha mãe e aceitar que o meu pai está no seu “lugar”, que eu estou no meu mundo e que um dia vamos nos encontrar.
Sim, é de dor que vamos falar. Renascimento e morte. É preciso algo morrer para o novo nascer. É disso que falo e é disto que “trato” DOR!
Todas nós temos as nossas feridas. Entrar em contacto com as nossas dores é a única forma de curar, ressignificar e nascer para o novo, para uma nova vida. Esse tem sido, o chamado há algum tempo, viver em AMOR, porque sim, esse é o significado da vida, o AMOR. Somente quem aprende a perdoar é capaz de amar.
Um dia da mãe atípico, isolamento social, nada de contactos físico. Desde Dezembro de 2019, a COVID-19 já levou muitas vidas, está a resgatar muitas almas, a fazer uma limpeza no planeta Terra, muito ainda está por vir.
É tempo de dor e amor. Costumo dizer que assim como existe o Caminho do Amor e da Dor, existem também os Mestres da Dor e do Amor.
E os pais, na maior parte das vezes, cumprem ambos os papéis. Os Mestres do Amor são aqueles que nos dirão “quão lindos e perfeitos somos”, “o quanto nos amam” e o “quanto somos bem-vindos”. Enquanto os Mestres da Dor, nos darão os limites ou ainda nos empurrarão para fora do ninho para que criemos asas.
Os Mestres da Dor nos exigem muito mais. Exigem que desenvolvamos em nós a nossa natureza divina. Pois às vezes só Deus em nós é capaz de perdoar pais abusivos. A questão é que enquanto não perdoamos, ou melhor, não aceitamos plenamente os nossos pais, o amor não pode fluir livremente. E assim ficamos presos a memórias de dor, sem podermos viver em plenitude.
Provavelmente os nossos pais também possuem suas dores, inseguranças, desafios. Guardar mágoas dos nossos pais é rejeitar uma parte de nós mesmos. É o que nos faz sentir desencaixados. Sem raízes. E assim como uma árvore sem raízes não pode crescer nem dar frutos, ficamos estagnados em nossa pequenez, olhando para o passado e de costas para nosso próprio destino.
Os nossos pais são nossos heróis, desejamos uma perfeição acima da condição humana. A ironia é que quando nos tornamos pais e nos apercebemos disso, somos “obrigados” a sair do papel de vítima, do olhar da criança ferida e ver que a vida não é um conto de fadas cheio de finais felizes.
No emaranhado de emoções que a vida é – alegrias, tristezas, dores, contentamentos, crenças, condicionamentos, memórias – cada um de nós vem com seu “emaranhadinho” para desenrolar. Esta é a aventura da alma. O final feliz depende única e exclusivamente de abraçarmos a vida tal qual ela é. Somos nós os heróis da nossa jornada.
A verdade é que o maior dos tesouros que poderíamos receber dos pais já está em nossas mãos: a VIDA! Um campo de infinitas possibilidades.
Feliz dia das mães!